Enquanto
parecíamos ver uma manifestação específica contra o aumento de 20 centavos na
passagem de ônibus de São Paulo (articulado pelo Movimento Passe Livre - MPL)
passamos a vivenciar a maior onda de protestos no Brasil das últimas décadas,
em pouco menos de duas semanas.
O
“primeiro grande ato contra o aumento das passagens”, como ficou conhecido, ocorreu
no dia 06 de junho e foi marcado principalmente pelo confronto entre
manifestantes e policiais. Como é de costume do brasileiro, sempre concluímos a
situação com rapidez: No caso da mídia tradicional (sempre representada pela Rede
Globo) focaram em manifestantes que destruíram propriedades públicas e privadas
na Avenida Paulista enquanto que as mídias sociais foram responsáveis por mostrar a
violência praticada por policiais, revelando também o despreparo e modus operandi dessa instituição,
principalmente até o “quarto grande ato”.
É
claro que poucos chegaram à conclusão que bandidos poderiam estar travestidos
tanto de manifestantes quanto de policiais (que na teoria deveriam prover
segurança à sociedade). O foco nas ações da polícia e algumas opiniões na mídia
foram grandes pontos de descontentamento da população brasileira e em poucos
dias o mote “não é só por 20 centavos” ganhou proporções que poucos imaginavam.
Temas como os gastos na Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas,
assim como a corrupção e precariedade nos setores controlados pelo governo como
educação e saúde, passaram a fazer parte da agenda dos protestos. Através do
movimento Anonymous muitos manifestantes se intitularam apartidários, enquanto
que defensores da agenda promovida pelo MPL passaram a olhar com receio a
“perda de foco” em relação às primeiras manifestações.
Ainda
é muito cedo para saber o real significado das manifestações que eclodiram no
Brasil nessas últimas, mas algumas análises já podem ser feitas.
Um olhar para o passado
A história do Brasil certamente não é
atrelada a liberdade. Pouco se viu disso por aqui, ao contrário dos Estados
Unidos que já no século XIX se preparava para tornar-se a nação mais rica do
mundo. Após quase todo o século XIX de um Brasil monarquista e escravocrata, o
século XX foi tampouco marcado por indivíduos livres e que mudaram o nosso país.
A partir da década de 30, Getúlio Vargas foi um ditador populista por quase duas décadas, JK criou uma cidade no
meio do nada para o reduto e segurança da classe política federal, outros dois
populistas chegaram ao poder e na eminência de uma revolução comunista (e por
consequência uma ditadura), um golpe militar foi instaurado e mais duas décadas
se passaram sob um regime ditatorial.
No
campo político, militares mataram inúmeros opositores (a maioria deles
reivindicando um regime socialista) e censuram outra boa parte enquanto que no
campo econômico também vivenciamos um desastre total. Um grande estado
controlador que atrasou o desenvolvimento de infraestrutura por décadas e
destruiu o pouco que tínhamos de distribuição de capital entre a população brasileira,
através de criminosos períodos de hiperinflação.
Em
uma breve pausa no que veio a seguir, é com todo o prazer, que apresento a
vocês a “única” alternativa as políticas de esquerda, segundo eles mesmos: o
período de ditadura militar. Sim, é isso. Somos obrigados a escutar até hoje
que o período de ditadura militar era a representação do “american way of life”, do capitalismo. Segundo os deturpadores,
essa “direita conservadora” brasileira era a antítese do comunismo. Bloggeiros
de grande influência (e zero honestidade) como Luis Nassif afirmam que esse era
o estado mínimo, portanto estava “provado” que um estado limitado não dá certo.
Voltando
aos acontecimentos, com a queda da ditadura militar não demoramos nem uma
década para derrubar um presidente. Após um desastroso governo do José Sarney
(olha quem tá aí até hoje!) marcado pela hiperinflação, seguido por um período
ainda mais conturbado que culminou no confisco bancário dos cidadãos, tivemos
talvez a grande última manifestação popular, marcada pelo movimento
“caras-pintadas”. Entre os meses de agosto e setembro de 1992, milhões foram às
ruas. Como resultado prático: o presidente da república caiu. Como legado:
Pouco mais de 20 anos depois estamos novamente nas ruas.
Essas
duas décadas que vieram, e formaram uma geração que hoje estão nas ruas, foram
marcadas como um suposto período de prosperidade na mão de partidos como PSDB,
PT e PMDB. O simples fato de não termos vivenciados períodos de hiperinflação
nesse período e presenciarmos a abertura dos mercados (com muito protecionismo,
é claro), o grande estado brasileiro manteve a população “em coma” enquanto que
políticas assistencialistas e de criação de crédito foram o suficiente para que
tivéssemos desenvolvido uma crença na democracia e no “potencial” (olha quem tá
aí até hoje!) do Brasil.
O que esperar do futuro?
Como puderam ver nesse breve e
simplificado resumo da história política brasileira, nossa história é marcada
pela relação entre estado e indivíduos. O primeiro é tido como responsável por
ofertar serviços dos mais básicos aos mais complexos à população enquanto que o
segundo sempre foi estimulado a pensar que a melhor maneira para melhorar o
Brasil era através da democracia. Até hoje, muitos consideram a Constituição de
1988 como um grande e positivo marco para a história do Brasil. Venderam para
nós (e legalizaram) a ideia de que bens, por mais básicos que sejam, são
direitos da população, portanto devem ser providos pelo estado.
Do ponto de vista econômico, o
capitalismo sempre foi visto como um grande vilão, segundo os “intelectuais”
brasileiros. Grandes escritores, músicos, cientistas políticos, filósofos e
resistentes ao regime militar, partilham do pensamento comum que liberdade
econômica é naturalmente ruim. Certamente essa análise não foi baseada numa
correta análise histórica do Brasil e mundo afora.
Neoliberalismo (poderiam chamar de “nãoliberalismo”)
foi a denominação usada pela esquerda para definir as políticas econômicas na
América Latina na década de 90. A verdade é: nunca existiu uma escola
neoliberal. O termo é uma criação para mostrar tudo aquilo que é ruim (como a
miséria e disparidade econômica) no Brasil, é culpa do neoliberalismo, mais
adiante transformado em sinônimo de livre-mercado ou capitalismo. Como não há ninguém
para defender uma ideologia inexistente, fica fácil deturpar conceitos.
O
Eike Batista é visto como sinônimo de capitalista brasileiro. O pai dele era
Ministro de Minas e Energia quando diversos campos de recursos naturais foram descobertos.
Ele misteriosamente adquiriu boa parte deles e hoje é o maior financiado pelo
BNDES e tem relação extremamente próxima com o estado. Mussolini diria que isso
é fascismo. Aqui não sabemos nem o significado desse termo e ele sempre é dito
para descrever tudo, menos a simbiose entre o mercado e o estado.
Privatizações
(no caso da telefonia não conta, ok?) sempre foram vistas com repudio pela
esquerda. Os sociais democratas, representados pelo PSDB são atacados por
petistas por terem “privatizado o Brasil” enquanto que os tucanos sempre ficaram
em cima do muro quando privatizar ou não diversos setores vem à tona. Garanto
para vocês que nenhum partido político está disposto a diminuir de tamanho.
Quanto mais gritamos besteiras como “o petróleo é nosso”, mais felizes os
políticos ficarão. Estaremos dando
legitimidade para que eles cuidem da nossa vida.
Deixando
a imoralidade de lado, até para ter sucesso em programas assistencialistas um
estado deve antes acumular capital e riqueza para então distribuí-lo. A Suécia
que é vista com entusiasmo como modelo perfeito de governo, passou décadas de
extrema liberdade econômica antes de se transformar no grande estado que é. Tanta
riqueza foi criada, que hoje eles podem se dar ao luxo de ser o maior estado
assistencialista do mundo sem que tenham quebrado ou atingido o colapso. Adicionalmente, eles entendem que menos regulação
no mercado também é outro estímulo para o empreendedorismo.
Aqui
no Brasil, somos diferentes, pulamos o período de acumulo de riqueza e capital
para podermos distribuí-los. Ou seja, o caminho que estamos seguindo é a
distribuição da pobreza. Os governantes sabem que é necessário o mínimo de
liberdade e geração de riqueza para que programas assistencialistas vinguem. Nesse
sentido não há nenhuma diferença entre PSDB e PT. A diferença está no apelo
populista do segundo e sua capacidade de entender como fortalecer o estado e
controlar as massas. O Gramscismo está vencendo, mas a população sabe que algo
está errado.
O gigante está vivo, mas ainda não está
acordado.
É realmente lindo e empolgante ver o
quão frágil os governantes e o estado ficam frente a uma população indignada.
Ele só se mantém com o consentimento de seus governados, pois no fim somos nós
que legitimamos a ação dos governantes. Somos em mais número e fisicamente mais
fortes, se não tivermos dispostos a sustentar todo esse sistema ele certamente
cairá.
Vamos pedir por mais do mesmo? Mais
estado e mais políticos na nossa vida? Até quando vamos acreditar que ações
voluntárias são ruins? Que a raça humana não é capaz o suficiente de mudar o
mundo para melhor com ações de indivíduos? Se o estado é responsável por
regular e fiscalizar as pessoas, quem fiscaliza os reguladores?
Pensem nas melhoras coisas que
aconteceram nos últimos 20 anos. Se fizer uma lista é muito improvável que o
governo seja responsável por algum desses acontecimentos fantásticos. A
capacidade que o mercado tem em oferecer bens é excitante e incrível.
Certamente o mercado é capaz de fornecer serviços tidos como básicos, mas isso
não será permitido pelo status quo e
nem por aqueles que acham que mais estado traz mais prosperidade.
De nada adianta nos tornarmos uma geração de
manifestantes, mas que de fato não luta por algo que mudará esse país.
Liberdade é uma palavra meio nova por aqui, mas não devemos deixar de sonhar e
mudar o nosso país.Somente indivíduos agem e a complexidade em viver
num mundo de sete bilhões de pessoas não pode ser planejada centralmente como
se nossas vidas fossem somente uma ferramenta na hora de eleger um político.
Atos de violência são relativizados
quando somos chamados de contribuintes pela Receita Federal e inventados
quando pessoas voluntariamente interagem entre si. Experimentar a liberdade longe
das amarras de burocratas pode ser o primeiro grande passo para um país
prospero. Caso contrário, teremos mais do mesmo e seremos para sempre o Brasil
do futuro.
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Por fim, recomendo a leitura desse artigo escrito em 2002 mas que se mantém bastante atualizado. É sobre o espírito que assombra o Brasil: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=42
Perfeito, é bom ver que o Brasil ''Acordou'', mas é triste ver que, como tu disseste, pede mais do mesmo, mais asistencialismo, mais Estado babá, mais vidas nas mãos de burocratas.
ResponderExcluirGostei
ResponderExcluirÓtimo texto. Parabéns. É bem verdade isso, infelizmente as coisas no nosso país estão caminhando pra um rumo incerto.
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